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Madrugada

Sinopse
Este Texto é ficcionado a partir de um dos interrogatórios da PIDE exercido sobre uma das muitas mulheres que nas suas instalações sofreram uma das maiores opressões que existem e continuam a persistir neste suposto mundo moderno: a castração do seu Direito ao “Livre Pensamento”, ou seja, a castração à “Liberdade do Indivíduo”.
Muitas foram as mulheres que por lá passaram e urge ter uma perspectiva do seu sofrimento.
Este espectáculo coloca em cena um interrogatório a uma mulher nas vésperas do 25 de Abril. No
entanto a situação é apresentada de forma intemporal, num  "Aqui" e "Agora" que continuam a marcar os nossos tempos.
Este espectáculo, uma co-produção com a companhia Teatro Art´Imagem, enquadra-se no tema anual de trabalho da companhia TEatroensaio: “Migração, espaços físicos e psicológicos”, contribuindo para a discussão da nossa história recente e memória colectivas.



“Madrugada”/Fiat Lux

Penso que “Fiat Lux” será a expressão correcta, para mim, em relação a este espectáculo. Refiro-me à cenografia, encenação, interpretação e mesmo a criação literária (ou seja o texto enquanto papel).
Partindo da total escuridão, aliás como em qualquer criação, comecei a vislumbrar um pequeno foco que se/me foi alumiando e também ao espaço envolvente, todo ele. Como o inicio de uma lareira que pouco a pouco se torna num fogo consolador (e tanto que o homem tem aprendido com o fogo). Portanto “Fiat Lux” não no sentido Bíblico mas sim no empírico.
Se a palavra “interrogatório” me interpelou desde cedo, mais me incomodou o seu significado e certamente com o meu crescimento intelectual e político a dita tornou-se minha inimiga. Já há muito que realizei várias tentativas de abordagem ao tema, mas talvez fosse a idade ou o tanto querer dizer, a vontade de a querer extinguir, etc., achei sempre que o resultado final era um grande conjunto de chavões e lugares comuns que me deixavam insatisfeito e profundamente frustrado.
Ao abordar o tema “Migração; espaços físicos e psicológicos” dei por mim a falar do mesmo nesta peça através de um interrogatório, ouro sobre azul ou o incontornável oximoro.
“Madrugada” é uma peça baseada e ficcionada num dos muitos interrogatórios realizados pela Polícia Internacional de Defesa do Estado (vulgar PIDE) a uma das presas políticas. Não localizei o texto à época, porque com o que se passa actualmente o assunto é, em vários locais do mundo, o quotidiano de muita gente. O tema infelizmente é universal.
O jogo de presa/predador é constante durante esta hora de espectáculo:
Interrogador – Este é o meu trabalho, não estou de nenhum lado, livre de grelhas e chavões. Ninguém me espera mas todos me aguardam.
Interrogada – O que faz de predador presa ou presa livre? Eu neste momento sou maior que tu, eu sou a raiz!
As duas personagens digladiam-se, cada um no seu território, num palco despojado de adereços e futilidades, deixando espaço ao interior de cada um e ao ferimento da luz que é corrente vital para ambos, que a qualquer instante determina o rumo e a vida de alguém.
Deixo aqui uma frase, que me tem acompanhado ao longo deste processo, do amigo António Cabrita, que vagueia pela diáspora, podemos lê-la no seu magnífico ensaio “Respiro”:
«Nunca me furtei ao apuro acrobático de montar vários cavalos de uma vez, saltando de uma  garupa para outra num equilíbrio instável que me expunha às escorregadelas mais  inconvenientes.»
Ou seja na minha leitura sem medo de falhar.

                                                                                  Pedro Estorninho
                                                                                    Autor/Encenador

 

 

“Para mim os meus amigos preparam sempre uma festa
   De despedida, uma sepultura tranquilizante à sombra de carvalhos
   Um epitáfio de mármore do tempo.”

Mahmud Darwich, Ramallah, 2002



Texto para "A Madrugada"
Que Teatro d´Agora, que Vida?
 
Na cela em cena a noite vai adiantada, é madrugada.
Fora é noite começada, dia de teatro.
Um homem e uma mulher. Um actor e uma actriz.
O Homem e a Mulher. O Pedro e a Helena.
Inteira, a humanidade em palco. 
Nos silêncios, nas falas e nos gestos, a vida da gente em questão.
Ali não terminou ainda a noite de que fala Saramago
mas nós sabemos já que se aproxima a madrugada de Sophia.
Atrás do tempo outro tempo vem.
O que nos evoca aquela aurora, que noite se esvaiu, que dia se perfila?
Que  luz se anunciava, que promessas prometidas?
Mil sóis e mil luas se passaram.
Aqui chegados, dizem-nos que os cravos  não florescem nos quintais.
Que fazer?
Prestes, demandem-se os jardins de magnólias e 
outras anormalidades
Mesmo quando nos dizem que
num raio de trinta quilómetros não existe magnólia nenhuma.

José Leitão
Director Artístico Teatro Art´Imagem

Locais:

•   de 3 a 7 de Abril de 2012,  Teatro Helena Sá e Costa, Porto.
•   de 7 a 10 de Junho de 2012,  Auditório Quinta da Caverneira, Maia.
•   7 de Setembro de 2012,  AVANTEATRO, Amora Seixal.

Ficha Artística
Texto/encenação: Pedro Estorninho
Apoio Dramatúrgico: José Leitão
Musica Original: José Mário Branco
Interpretação: Helena Carneiro e Pedro Carvalho
Desenho de Luz: Leunam Ordep
Espaço Cénico: José Lopes
Figurinos: Inês Mariana Moitas
Sonoplastia: Carlos Adolfo
Direcção de Produção: Inês Leite e Jorge Mendo
Produção Executiva: Carina Moutinho
Operação de Luz e Som: Teatro Art’Imagem

Design: Rui Duarte
Fotografia: Carina Moutinho, Pedro Ferreira
Vídeo: Eduardo Morais
Registo Musical: José Prata e Ricardo Gandra
Interpretação Musical: Ana Isabel Oliveira (violoncelo) e Hugo Brito (violino)

Co-Produção: TEatroensaio / Teatro Art’Imagem 30 anos em cena

Apoios TEatroensaio:
IEFP / CACE, Vinhos Fonseca, Ceres S. A:, Serviços Áudio-Esmae-IPP
Apoios Teatro Art’Imagem

estrutura financiada por SEC/DGartes
Apoios: CM Maia / IPJ



Espectáculo de comemoração do 30º aniversário do Teatro Art´Imagem (espectáculo nº 100).

Espectáculo inserido no projecto “Amigos Maiores que o Pensamento”.

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